quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

LUTO – LIDAR COM A PERDA E A NEGAÇÃO

HAZELDEN


LUTO – LIDAR COM A PERDA E A NEGAÇÃO

(Adaptado da Dra Elizabeth Kubler-Ross/Peter MacDonald)

            Quando se entra verdadeiramente no primeiro passo(“Admitimos que somos impotentes perante a adicção e que perdemos o controle de nossas vidas”), percebe-se que ele trata simplesmente da aceitação da perda.. Admitir a impotência é aceitar a perda de poder sobre o eu e o mundo. Talvez seja útil saber que a qualquer tipo de perda se seguirá inevitavelmente o luto. Ele acompanha a perda seja ela grande ou pequena. É bom saber que o luto passa por várias fases e que quase sempre termina pela aceitação da perda.
            As perdas associadas ao luto são muitas. Vejamos:
·         A própria substância: seja a droga, o álcool, ou outras compulsões, a garrafa(ou o que seja), é uma velha amiga de quem muitas vezes se depende para afastar o “sofrimento”, para ajudar a sentir que se controla a situação e ter melhor opinião sobre si mesmo. De repente ele fica sem sua muleta e pensa que terá que agüentar tudo sozinho sem qualquer tipo de ajuda;
·         Os amigos: quando se para de usar simultaneamente deixa de lado um velho círculo de amigos. Podem ser vizinhos ou colegas de trabalho, ou até mesmo membros da família que continuam a beber ou usar. Da mesma forma, se beber ou usar acompanhava os esportes ou outras atividades sociais, poderá ter que colocar de lado estas atividades durante algum tempo, se participar puder colocar em risco a recuperação, os membros co-dependentes(aqueles que tentaram controlar o comportamento do adicto ou das outras pessoas e perderam o controle do próprio comportamento), poderão continuar com estas atividades ou optar por abandoná-las por algum tempo;
·         Uma relação íntima: caso esteja terminando, com freqüência se perde não só esta pessoa, mas todo um grupo de amigos e conhecidos, incluindo os membros da família que se deixa de ver e os lugares que costumavam freqüentar, deixar amigos e ativida-des cria um grande espaço de tempo vazio durante o qual se sentem normalmente bastante sozinhos, e isso não é bom;
·         A auto imagem e a auto estima: Sob a influência do químico, o adicto acreditava que cuidava bem de sua família, que era responsável e carinhoso, pensava que controlava as situações e que a bebida ou o uso não os prejudicava ou aos que estavam ao redor. Mas quando toma a decisão de parar, começa a tomar consciência de que não era esse o caso e sim que não tinha o controle sobre a adicção ou as situações. Tomar consciência disso constitui um terrível golpe para a maioria e destrói a auto-estima e as ilusões a seu respeito;
·         Emprego: Muitas vezes o uso foi a causa da perda de um emprego(ou mesmo de uma série de empregos).Isto pode ser uma perda extremamente difícil se o sentimento de identidade dependia deste emprego. Para muitos, uma grande parte da auto-imagem está associada ao que se faz para ganhar a vida;
·         A família: Em outros casos, muitos como conseqüência de usar perde alguém através de uma separação ou de um divórcio. O papel de esposa, marido, pai, mãe é importante para todos e dá sentido às vidas de todas as pessoas. Às vezes, as pessoas mais novas perdem os pais por causa de sua própria dependência ou da de um dos pais, o que pode de qualquer maneira ser uma perda aterradora. Desempenhar o papel de criança proporciona segurança, perder este papel os obriga a se transformar em qualquer coisa nova – adulto, responsável, independente. Isso pode se tornar assustador.

Finalmente e talvez o mais importante, podem ter perdido a sua razão de viver se tiverem vivido para usar, para serem pais ou para contribuírem de qualquer forma através do trabalho(quer seja em relação à família, empresa ou à sociedade), e perderam quaisquer destas coisas por causa da doença, perde-se então a razão de viver e se não tiverem uma razão para viver morrem. O processo do luto é uma resposta saudável a uma situação de perda e é dividido em cinco estágios, é fácil ficar preso em qualquer uma destas fases e este processo serve tanto para a negação quanto para qualquer uma das outras fases, seja a raiva, a dor/desespero/depressão, negociação ou aceitação:

OS CINCO ESTÁGIOS DO LUTO PARA A ACEITAÇÃO

1 - Negação: Ela é um amortecedor psicológico que protege contra os conhecimentos ou sentimentos contra os quais ainda não se está mental, emocional ou espiritualmente preparados para lidar. Lembre de quando soube que alguém morreu e disse: “Não acredito!” Isto é negação e pode durar instantes ou anos, até dizer: “Pronto, aconteceu. É real. e agora, como é que me sinto? O que é que vou fazer agora?” Existe uma relação entre a importância da pessoa ou da coisa que se perdeu e o grau da negação. Quanto maior tiver sido a dependência daquilo que se perdeu maior será a negação. Por isso a determinada altura torna-se decisivo encarar a realidade e parar de negar a impotência, fazer o primeiro passo, e admitir(ainda que não necessariamente o aceitando logo)a impotência.

2 - Raiva: Alguma vez aconteceu de ficar com raiva quando perdeu alguma coisa e não conseguiu encontrar? Isso faz parte do luto. Parecemos impotentes quanto a nossa capacidade de localizar o objeto perdido ou aceitar a morte de alguém próximo a nós. Passa-se exatamente o mesmo com a dependência química. Os faz ficar pura e simplesmente furiosos com o fato de não poderem controlar o próprio comportamento e os próprios sentimentos ou os dos outros. ”Só uma bebida antes de voltar para casa” costumam dizer, e quatro horas depois estavam bêbados como um boné velho ao fechar o bar. Na manhã seguinte, ficavam cheios de raiva por serem de tal forma impotentes perante a bebida. E os co- dependentes que estavam em casa, conjugues, e crianças, esperando, ficam furiosos porque, o que quer que se faça, por  mais que os amem, os conjugues ou os pais continuam a beber. O problema com a raiva é que se pode tornar muito destrutiva se não for expressa de maneiras saudáveis. Pode se transformar num ressentimento amargo e levar a beber ou usar para fugir desse sentimento. Recalcada pode recair sobre os membros da família ou manifestar-se no trabalho, e o comportamento fica fora de controle. Pode conduzir à violência física. Pode transformar-se em depressão(raiva de si mesmo) e levar ao desespero ou até ao suicídio. Por isso é vital admitir que a sente e exprimi-la.

3 – Dor/desespero/depressão: Representam situações seguras que se cria, ocasiões em que se permite estar triste. Ajuda a exprimir os sentimentos profundos que se tem a respeito da perda. Muitos adictos falam de sua droga de preferencia como de um velho amigo: “O meu maior amigo era a garrafa”. É uma afirmação que se ouve com freqüência, quando se perde esse amigo se sentem triste. Com a dor vem também o desespero, é assustador perder alguém ou alguma coisa de que se tornou dependente. Acaba-se por  desesperar da própria vida e desistir desejando a morte, é um sentimento de grande solidão e sem esperança. Um dos problemas com a dor é que tal como a raiva, pode se tornar destrutiva. Pode-se facilmente cair numa armadilha e começar a sentir pena de si mesmo. Muitas vezes a auto piedade, a menos que se faça qualquer coisa para a resolver, conduzirá diretamente a bebida ou ao uso. ou pode fazer voltar à uma relação destrutiva da qual se tem estado a se libertar.
A dor pode também levar à depressão que pode imobiliza-lo e o fazer sentir-se completamente desamparado. Nem sequer quer sair da cama pela manhã, não consegue dormir ou então dorme todo o dia, ela pode levar também a pensamentos ou ações suicidas. Chorar é saudável e é uma boa forma de expressar a dor. É uma forma de tratamento e de limpeza. No entanto, para certas pessoas chorar pode ser difícil. Mas chorar representa o reconhecimento e a crescente aceitação da impotência, e portanto, da humildade. Chorar é saudável.

4- Negociar: É a tentativa desesperada para manter o controle, para conseguir que as coisas corram como se quer. Tentar controlar o uso é negociar: “Se eu beber só uma ou duas bebidas provo que me controlo, e portanto que não sou impotente”. “Se eu beber só nos fins de semana, isso significa que não sou impotente. Portanto posso beber”. Ou uma esposa pode dizer: “Bem, o convenci a não tomar outro copo, isso quer dizer que devo ter alguma influência sobre ele quanto ao seu uso”. Negociar impede de enfrentar a realidade e desta maneira é uma forma de negação também. Até certo ponto é bom pois ajuda a realmente descobrir se controla ou não alguma coisa. Mas também se torna destrutivo se lhe for permitido permanecer nele por  muito tempo pois separa da realidade da perda. Deixa uma ilusão de que ainda se tem o controle e impede de alcançar a fase final do processo do luto.

5- Aceitação: Esta é a fase final do processo, o objetivo do luto. Tendo passado pela negação, raiva, tristeza e negociação chega-se à aceitação da perda que ocorreu. Aceita-se que é impotente e que não é a pessoa que pensava ser. Tendo feito o luto, pode aceitar a perda do poder, e seguir sua vida, o que é precisamente aquilo que os doze passos querem dizer. Encontra-se a paz e a serenidade, chega-se a um acordo com a realidade. Não precisa de fé para admitir que é impotente, mas precisa dela para aceitar a impotência. A fé é o antídoto do medo, se tiver fé que, aconteça o que acontecer acabará ficando bem, não se tem nada a temer. Pode-se aceitar o estado de impotência sabendo que alguém ou alguma coisa cuida de si, é aqui que entra o segundo passo. “Tendo admitido que somos impotentes viemos a acreditar num poder superior a nós, tornando-nos assim capazes de aceitar a nossa impotência. Podemos então fazer o terceiro passo e pedir ajuda. Tudo está interligado.”

            Quer se esteja apenas começando a se recuperar da adicção ou de outro tipo de dependência ou mesmo se encontre a vários anos num programa de doze passos, o luto é uma coisa que todos enfrentam ao longo da vida. A perda e o luto subsequente fazem parte da vida e não há como fugir deste fato. O décimo segundo passo diz que “temos que praticar estes princípios em todas as nossas atividades”. Estas atividades podem ser às vezes as perdas que se tem que enfrentar. E uma delas, senão a mais importante, é a perda da sobriedade que muitos lutam tanto para conquistar.


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