Os Doze passos para o terapeuta
Uma
das características de muitos profissionais de saúde no atendimento ao
dependente químico, com uma impetuosidade e auto- exigência de resultados é que
muitas vezes o leva a assumir a responsabilidade da cura com tal empenho muito
peculiar de quem imagina ter a capacidade de salvar vidas. Esquecem ou desconhecem as características da patologia em questão e sua história
evolutiva; assumem a postura de cuidar do D.Q. com tal semelhança vista apenas nos familiares mais envolvidos,
tornando-se então “facilitadores profissionais.” Vamos ver como os doze passos
podem nos ajudar.
Passo 01 - Só
há esperança de controlar uma grande compulsão de cura quando admitimos que
somos impotentes perante a doença; assim como o D.Q. não consegue controlar seu
uso, nós não conseguimos controlar o D.Q.
Passo 02 - O
profissional, por formação acadêmica,
consegue mais facilmente confiar em tratamentos físicos/psiquiátricos/psicológicos
do que confiar na capacidade das pessoas de se envolverem na entrega; ou
acreditar que o próprio cliente possa resolver seu problema, com a ajuda, sem a
ajuda ou apesar da ajuda do terapeuta. Devemos reconhecer que a “força
superior” contra a compulsão pode ser muito mais forte que a “força superior”
da compulsão. Precisamos perceber os limites do nosso atendimento e acreditar
que um “poder superior” possa devolve ou manter a sanidade.
Passo 03 - O
profissional apresenta muitas vezes resistência em abandonar o estigma do
suposto saber, mas entregar-se ao poder superior, assim como o concebemos,
abrindo mão dos preconceitos e certezas da profissão, em nome de um pouco de
boa vontade é preciso.
Passo 04 -
Fazer uma minuciosa auto- análise, buscar conhecer-se, desenvolver-se. Fazer um
destemido inventário na sua forma de atender, o quanto e a quantos ajudou, ou
até atrapalhou. Reconhecer-se carente de ajuda para procurar e aceitar ajuda, e
não só dispor-se a ajudar. A terapia pode ser o caminho.
Passo 05 -
Admitir a nós mesmos, a natureza de nossas falhas e reconhecermos o limite do
nosso saber e competência. Penitenciarmo-nos perante nossas limitações e
procurarmos outro profissional, para compartilhar esse “segredo” em supervisão.
Lutar contra os defeitos da própria formação se faz necessário.
Passo 06 -
Prontificar-se a reformulação, iniciar uma luta contra suas dificuldades e
defeitos de caráter. As pessoas que fazem atendimento não são diferentes das
outras pessoas, nas suas semelhanças em qualidades e defeitos, potencialidades
e dificuldades. Afinal, ser humano é uma virtude, há que assumir-se.
Passos 07 - O
homem busca a perfeição, não se satisfaz em suas limitações, quer transpor suas
imperfeições, esquece a humildade. Precisa então, abandonar a onipotência;
perceber a existência de uma força superior como uma experiência interior
profunda; como um mistério que significa a revogação da arrogância humana
quando imagina que sabe tudo, e que na realidade sempre escapa algo do próprio
saber. Impulsionar-se a pensar sobre a mania de tudo poder, de querer ser Deus
e dominar os segredos da vida e da morte.
Passo 08 -
Buscar e ética como regra básica; afastar o ranço moralista, sem censura,
perceber tudo o que se passa consigo. Manter o inventário e reparar as
deficiências, produzir um desenvolvimento constante, manter o compromisso de
aperfeiçoamento como forma a reparar os danos causados e evitar que outras
pessoas sejam prejudicadas.
Passo 09 -
Colocar em prática a reformulação pessoal e procurar a correção profissional.
Evoluir sempre, salvo quando faze-lo signifique prejuízo a outros. Ser um
convite à ação, com princípios agora de sobriedade.
Passo 10 -
Manter uma estratégia de aperfeiçoamento é fundamental. Produzir uma auto-análise
sistemática, admitir o erro prontamente e corrigir a trajetória.
Passo 11 -
Procurar, buscar, através da prece e da meditação, um encontro máximo consigo
mesmo, uma reconciliação com a vida e com a profissão como ela é, e não como
gostaríamos que fosse. Melhorar o contato com as forças superiores, e rogar
apenas o conhecimento de sua vontade em relação a nós; e ter forças para
realizar essa vontade. Perceber que o potencial de recuperação não depende
apenas do terapeuta.
Passo 12 -
Tendo conseguido quebrar o estigma e sair da ignorância quanto à doença, num
despertar de uma nova maneira de atender, expandir esses princípios para todas
as atividades e poder auxiliar outros profissionais a encontrarem esse
despertar.
Não basta apenas aprender sobre Dependência
Química e investir passionalmente contra ela (“abstinência”). É preciso
amadurecer a forma e ampliar as possibilidades de ajuda (“sobriedade”). Isso só
será possível quando se conseguir avaliar com precisão os próprios limites e
aceitá-los, ser influenciados em sua forma de ser e agir, para conseguir a
“serenidade.”
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